GREEN KNIGHT


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segunda-feira, 23 de maio de 2011

À DESCOBERTA DE LISBOA

Este foi um dos muitos capítulos do meu trajecto
Estávamos em 1958

No dia seguinte a menina D.M.V. foi comigo à Solmar, falar com o senhor Costa da empresa, dos Srs. Manuel e António Paramês e foi assim que entrei para o mundo da baixa lisboeta, para trabalhar neste conhecido restaurante como «groom» «garçon».


Ainda recordo de nos primeiros dias ter telefonado de uma cabine para a minha mãe, a comunicar-lhe os meus receios de me perder naquele movimento da baixa lisboeta, afinal eu tinha, onze anos.
Se pensar no que fazia depois de oito dias passados, hoje dá-me graça.
Primeira regra, ser amigo do colega mais expedito no serviço, colher o máximo de informação, aprender todos os truques para se ganhar
mais dinheiro e depois ser melhor onde ele falhar, comecei pelo café pastelaria.
Chamava uns táxis, acendia uns cigarros aos clientes que liam o jornal, também levava uns bilhetinhos dos «engates» que passei a cobrar dos dois lados “inovação”, comecei a entender alguma sinalética nos olhares e nas posições de pernas, ou até com o fumo dos cigarros, comecei a fazer o meu investimento de amabilidades onde era mais rentável.
Posso explicar: como aspirava  mudar para o restaurante e ainda havia a galeria, eram patamares sociais diferentes, o café era onde se ganhava menos nas gratificações.
A cervejaria e o café não davam muito, devido ao estatuto social ou até as circunstâncias, não darem para apreciar as atenções que prestávamos no serviço.
Esmerando-me no que fazia no café, fui colhendo boas opiniões a meu respeito de alguns clientes com algum peso na casa.
O senhor Ricardo Covões era um desses clientes, gostava de estar na sua cadeira de rodas ao fundo da rampa em frente ao cinema Politeama, falávamos muito, porque eu regularmente lhe trazia a sua bica bem tapadinha, com aquele papel celofane impermeável, eu dava-lhe alguma atenção e o senhor por algumas vezes ofereceu-me entradas para o circo no Coliseu do Recreios.

Com a opinião deste homem e com mais dois ou três clientes que achavam que as minhas aptidões davam para o meu ambicionado lugar lá consegui chegar até ao restaurante e depois à galeria.
Estas pessoas influenciaram de certa maneira a minha promoção, para o meu ambicionado objectivo, ficar colocado na galeria, onde as reservas das mesas eram seleccionadas para um nível mais elevado, a exigência era maior, as mesas eram postas como se de um ritual se tratasse, com pessoal bem classificado na arte de bem servir.
Na chegada dos clientes ajudava as senhoras a retirar o casaco pela ordem das mais idosas.
Com os senhores era o mesmo, ajudar a sentar ou levantar do lugar, segurando ou ajustando a cadeira, estar atento a algo que caísse da mesa e retirar, comunicando ao servidor da refeição as faltas,para serem recolocadas, nós nunca devíamos fazê-lo, a não ser que alguém fumasse e aí colocávamos o cinzeiro e acendíamos os cigarros com estilo e educação.
Algumas refeições, eram feitas junto das mesas com exibição de alto nível, aquecidas ao momento, “souflés”, gratinados ou até balões de bebidas fortes, tudo era trabalhado com requinte, éramos concorrentes do Restaurante Gambrinus, Tágide, Negresco, Tavares Rico e outros.
Conheci pessoas de vários níveis sociais, de outras culturas e outras línguas, porque também recebíamos muitos turistas estrangeiros.

Continua

3 comentários:

Dad disse...

Que interessante. Boa ideia de, através do seu relato virmos a conhecer algumas das realidades alfacinhas.
Um beijinho para si e continue que o vou ver com muito prazer.

Kim disse...


Quem não sabe ser tendeiro melhor será que feche a tenda.
Como eu entendo este percurso que tão bem fizeste e aqui relatas. Fico à espera do resto
Abraço amigo

SEVE disse...

Excelente esta crónica Zé, obrigado.

Um abraço